quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Melhores de 2012


Eu sempre faço textinho de cada filme justificando minhas escolhas, coisa e tal. Os filmes são selecionados com base no calendário de estréias nacionais da FilmeB. Boa parte deles continua inédito em Goiânia (por pouco tempo), outros passaram apenas pela Mostra “O Amor, a Morte e as Paixões”. E eu ainda fiquei sem ver o novo do Abbas Kiarostami que provavelmente estaria nas cabeças dessa lista de vinte filmes - por que 10 foi pouco pra um ano tão cheio de coisa boas!



1 - Caminho para o Nada, Monte Hellman
2 - Mistérios de Lisboa, Raoul Ruiz
3 - O Homem que Não Dormia, Edgard Navarro
4 - Isto Não é Um Filme, Jafar Panahi
5 - Cosmópolis, David Cronenberg
6 - As Quatro Voltas, Michelangelo Frammartino
7 - L’Apollonide, Bertrand Bonello
8 - Memórias que Só Existem Quando Lembradas, Júlia Murat
9 - Ha Ha Ha, Hong Sang-soo
10 - Holy Motors, Leos Carax
11 - O Pai das Minhas Filhas, Mia Hansen Love
12 - Um Verão Escaldante, Phillipe Garrel
13 - Memórias de Xangai, Jia Zhang Ke
14 - Kaboom, Gregg Araki
15 - 13 Assassinos, Takashi Miike
16 - Girimunho, Clarissa Campolina e Helvécio Marins
17 - O Porto, Aki Kaurismaki
18 - Adeus, Primeiro Amor, Mia Hansen Love
19 - Um Método Perigoso, David Cronenberg
20 - Habemus Papam, Nanni Moretti

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O cinema é Carax, ou Carax é o cinema?

O ano de 2012 não foi um ano bom para esse blog. Na verdade foi um ano intenso para este que vos fala, ano em que vários desafios foram encarados de uma só vez, o que desviou de certa forma meu foco e meus interesses em relação ao cinema. Foi um ano surpreendentemente intenso, cheio de trabalho, de projetos que ainda virão, mas que ganharam forma em 2012. Mas – e digo isso por mim nesse primeiro momento – o ano de 2012 foi o ano do Cine Cultura. Ano em que todas as energias foram direcionadas pra esse pequeno santuário do cinema em Goiás. Para que ele pudesse retomar o seu lugar de sempre, e ir ainda mais além. Ano em que o Cine Cultura começou a alçar novos vôos, começou a ganhar mais corpo, mais sangue, mais carne. Tornou-se vivo novamente.

Digo isso tudo, que nem tem a ver com o meu post pra dizer algumas coisas sobre a Mostra Leos Carax; alías, sobre o cinema do Leos Carax. O meu orgulho na verdade vem de – como programador do cinema, mas, sobretudo como cinéfilo – Goiânia estar recebendo uma retrospectiva que tem rodado algumas poucas cidades mundo afora. São apenas três filmes, mas são cópias em 35mm originais, vindas diretamente da cinemateca francesa, o que não é pouco. É oportunidade pra se absorver esse cinema em sua totalidade. Afinal Carax – principalmente nesses 3 primeiros filmes – sempre se mostrou um enorme defensor da película, da imerssão do espectador dentro de uma sala de cinema. Seu filmes são sobre isso também. Sobre ver cinema!

A mostra é claro pega o embalo do oba-oba criado em cima de Holy Motors, filme recém lançado de Carax e que tem causado enorme frisson na crítica (e nos cinéfilos, claro) mundo afora. Entretanto a mostra ignora esse seu último filme, para dar destaque aos seus 3 primeiros longas, todos eles decisivos para a história do cinema francês do final dos anos 80 e início dos 90. Era o momento em que a geração MTV começava a se formar, quando o videoclipe – e a publicidade - passou a ser a grande influencia de um sem número de cineastas. Na França esse momento foi representado por gente como Luc Besson e Jean Pierre Jeunet basicamente. Nesse período, Carax foi duramente taxado como um desses representantes que emulavam a linguagem do videoclipe dando uma verve pop a seus filmes, mas sem ter muito a dizer. Uma balela! Por que Carax e seu maneirismo, seu barroquismo, apesar de sustentar certa referência ao videoclipe, ao rock e à música pop, constrói um cinema muita mais consciente e incrivelmente rico e interessante, se valendo é claro de suas influências que perpassam toda a história do cinema francês. Corrijo. Não só do cinema francês, mas do cinema mundial. Referências que vão desde o cinema mudo, de Chaplin, Keaton, Vigo, do cinema de gênero, do melodrama, mas principalmente de Godard, Tati, Melville, cineastas caros à obra Carax.

Percebe-se então que Carax quer pensar o cinema e a arte como processo de fruição de idéias, de experiência estética. É um cinema do corpo, do ator, da montagem, do quadro (e do fora-de-quadro). Um cinema da potência fílmica, onde tudo parece estar em um processo de intensa combustão. Um cinema do som, da música, das cores. Se a genialidade de Carax se sustenta – e é tão celebrada – é exatamente por que poucos diretores conseguiram impregnar o cinema de tantas coisas, colocando-o em perspectiva com outras artes. Com a pintura, com a música, com o teatro e claro com o próprio cinema de uma maneira tão viva, tão cheia de surpresas.

O que não faz do cinema de Carax um caldo de referências histórico-anarquistas como é o cinema de um Tarantino por exemplo. É claro, existe no cinema de Carax um anarquismo estético que está muito mais ligado à forma com que Carax absorve, questiona e reprocessa suas experiências e referências para criar uma coisa que é sua. As referências não gritam para o público dizendo “olha ali o Godard”, ou “isso aí é uma homenagem ao Tati ou Vigo”. Não! Carax não precisa desse tipo de citação para reverenciar o cinema – até por que seu cinema não é só reverência, é também indagação. Tudo parece surgir de maneira bastante orgânica, arejada, nova, como se essas referências estivessem invisíveis, mas ainda assim, presentes em cada fotograma de seus filmes. É um cinema que pensa o cinema, e não um cinema de referências reeditadas, atualizadas banalizadamente (não que o cinema de Tarantino seja, mas há outros!).

Enfim, falar do cinema do Carax é algo que no final das contas acaba ficando meio vago, por que é cinema que demanda como poucos, a experiência genuína do “ver”, do “olhar”, do “sentir”. E poder experimentar isso em sua plenitude, dentro de uma sala de cinema, com cópias lindas em película, só faz a viagem ser mais e mais intensa e prazerosa.