domingo, 2 de janeiro de 2011

Melhores de 2010

Confesso que já estava deixando esse blog pra trás, sem tempo pra postagens, pra terminar textos que tinha começado a escrever ainda na Mostra de São Paulo e que provavelmente vão ficar incompletos, para trás. Mas se tem uma coisa que gosto sempre de fazer todo final de ano é listinha dos melhores. Isso me faz repensar muitos filmes: desmistificar alguns, lançar novos olhares sobre outros, correr atrás de coisas que ainda não havia visto... enfim, momento de revisar e celebrar o cinema que passou.

Até chegar a essa versão final a lista sofreu várias mudanças, com dúvidas irresolvíveis sobre o primeiro lugar, várias mudanças de posição, mas a certeza de que o cinema continua vivíssimo, inventivo e generoso, capaz de nos surpreender ainda por muitas vezes!


1) Ervas Daninhas, Alain Resnais/ Sempre Bela, Manoel de Oliveira




Um tanto difícil escolher entre Resnais e Oliveira, ainda mais quando os dois filmam como dois garotos, cheios de frescor e vitalidade, nos surpreendendo, nos emocionando. No caso de Ervas Daninhas, é Resnais preenchendo o vazio existencial de seus personagens, colorindo e iluminando com neons as gélidas e vazias relações humanas. Já Sempre Bela é uma dessas brincadeiras geniais que Manoel de Oliveira nos convoca a fazer com o cinema. O retorno aos personagens de “A Bela da Tarde” de Buñuel serve bem menos como homenagem do que como uma reencenação, uma representação daqueles personagens agora em outro tempo, outro mundo, outra vida, diante de outras lentes, outros olhos. Pequeníssimo e poderoso.

2) Vincere, Marco Bellochio


Marco Bellochio, dos maiores cineastas políticos do cinema, nos coloca diante da construção da imagem, de mitos, de lendas. O pano de fundo histórico criado por Bellocchio serve menos como acerto de contas com o passado do que uma confrontação com o mesmo. Não se trata aqui de um filme sobre o surgimento do fascismo ou mesmo da chegada ao poder de Mussolini. Vincere é muito mais sobre tempo e verdade. O tempo do homem não é o tempo do mundo, o tempo de Deus. E é o tempo, esse senhor, que nos revelará a verdade.

3) Mother, Bong Joon Ho


Bong joon Ho entra de cabeça nos devaneios de uma mãe tentando provar a inocência do filho acusado de assassinato. Não há qualquer condescendência. Poucos filmes registraram de forma tão poderosa e dolorida, em carne e sangue, o que é ser mãe. Direção magistral e atuação assombrosa de Hye-ja Kim.

4) Filme Socialismo, Jean Luc Godard



O bombardeio de imagens, a utilização de um sem número de novas mídias que captam imagens saturadas, desfiguradas. Os personagens cantando suas próprias contradições. Letreiros. Legendas. É Godard nos convidando muito mais a degustar e viajar pelas incoerências desse nosso “novo mundo” do que a entendê-lo, decifrá-lo.

5) Machete, Robert Rodriguez


Cinema de guerrilha, de revolução, de subversão.  Robert Rodriguez mergulha de cabeça no cinema B, marginalizado, exploitation pra filmar um típico herói terceiro-mundista, sedento de sangue e vingança, mas sempre lutando pelo seu povo. O melhor filme de Rodriguez.

6) O Escritor Fantasma, Roman Polanski



Filme que vai se revelando aos poucos, que se abre acanhadamente, mas que se revela um dos mais importantes filmes do ano, disparado! Em certos momentos faz lembrar o Polanski genial de O Inquilino e Repulsa ao Sexo. Radiografia corrosiva sobre as relações políticas, a manipulação das informações, das mídias. Em tempos de wikileaks, um filme essencial.

7) À Prova de Morte, Quentin Tarantino



Mais divertida sessão do ano.

8) Brilho de Uma Paixão, Jane Campion



A linha e a agulha. A inspiração. Jane Campion faz seu melhor filme ao contar a história de uma musa e de sua paixão pelo artista poeta, fracassado. O filme se entrega de maneira apaixonante às ambiências, às sensações provocadas por essa fagulha que incendeia os personagens, se entrega a pieguices sem medo, se assume o último filme romântico como de fato era seu poeta John Keats.

9) Ponyo, Hayao Miyazaki


Depois de passar num dia Ponyo e no outro Toy Story 3 pra garotada de uma creche que minha mãe cuida, percebi que ninguém atinge esse encanto da magia, da fantasia, do surreal como o grande Miyazaki. Criançada emudecida, impressionada. O marmanjo aqui também.

10) Vício Frenético, Werner Herzog


Gosto muito do original dirigido por Abel Ferrara, mas Herzog soube fazer um filme tão seu, rasgado, desvairado, amparado pela atuação absurda do Nicolas Cage, em que um cara fuma, cheira, bate em mulheres, ameaça velhinhas e ainda é o grande herói da história.

    11) O Que Resta do Tempo, Elia Suleiman
    12) Rede Social, David Fincher
    13) Abutres, Pablo Trapero
    14) Inferno de Henri Georges Clouzot, Serge Bromberg e Ruxandra Medrea
    15) Minha Terra, África, Claire Denis 
    16) A Ilha do Medo, Martin Scorsese 
    17) A Fita Branca, Michael Haneke 
        18) Invictus, Clint Eastwood
    19) Guerra ao Terror, Kathryn Bigelow 
    20) Avatar, James Cameron