sábado, 24 de setembro de 2011

Impressões em 1ª Pessoa sobre PACIFIC.



Devo dizer que saí completamente consternado do filme de Marcelo Pedroso ontem na reabertura do Cine Cultura. Até então, eu nunca tinha visto um filme que refletisse e representasse a classe-média brasileira (da qual eu faço parte) de uma forma tão frontal e íntima, tão visceral e empática. O filme passava e a cada sequência, eu me lembrava da minha família, meus amigos, de momentos semelhantes que passamos juntos...

Marcelo Pedroso, perturbado por essa dificuldade de representação que o cinema brasileiro tem de representar sua classe-média, lança-se num terreno um tanto movediço para nos dar um retrato de uma fatia da sociedade que sempre se esquivou do reflexo de sua imagem, como representação cultural e social. Depois de ontem, percebo que ainda é difícil que essa classe-média se reconheça de fato, vendo Pacific, pois antes de tudo existe o julgamento. Entretanto, julgar os outros, significa julgar a si próprio. 

Marcelo Pedroso ciente de todas essas implicações, reunindo imagens dos próprios passageiros do cruzeiro “Pacific”, constrói um filme que se esquiva o tempo todo de uma certa crítica banal sobre a sociedade brasileira, sem nunca apontar o dedo para o atual estado dessa classe-média nesse Brasil que injeta a idéia do crescimento econômico na vida e nos sonhos das pessoas. Marcelo, consciente do impacto das imagens dos passageiros, e do poder de sugestão e reflexão dessas imagens, deixa para o espectador o trabalho de pensar acerca de como essa classe-média brasileira vive esse momento tão alardeado de boom econômico. Momento em que, com a linha de crédito largamente ampliada, é facilmente possível viajar num transatlântico – o que antigamente era ostentação de ricaços que se esbaldavam em luxuosos navios – parcelando a viagem em 12 vezes facilmente encaixáveis dentro de seu orçamento. Se existe em Pacific, uma crítica ao consumismo desenfreado, dessa classe média que ostenta e esbanja sem se posicionar diante de uma realidade brasileira um tanto distorcida, ela surge naturalmente dessas imagens que pululam na tela, hora nos emocionando, hora nos instigando, nos confrontando com as suas ilusões.

Pacific é um filme que suscita uma série de questões éticas, sociais e morais. É um filme que coloca em cheque essa representação social, retirando máscaras, sem nunca deixar de reconhecer ali que somos todos produtos de um mundo pré-programado, de um mundo que nos dita a maneira como devemos nos vestir, nos portar, enfim, de um mundo que nos dita como ser feliz, mas que ainda não descobriu que a felicidade está mesmo é dentro de cada um de nós, é piegas, mas é isso mesmo.