quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Depressão pós filme, ou como o cinema também pode se deprimir.

O cinema Lumiére, de maneira quase que vanguardista aqui em Goiânia, começou desde a semana passada a promover cabines para a imprensa local, coisa que nenhuma sala se interessou em fazer, tendo em vista a fragilidade da crítica e imprensa local ao longo de todos esses anos, coisa que aos poucos vai sendo redesenhada através de um movimento que tem fortalecido bastante o papel da crítica para o cinema local. Cabe aqui um alerta aos demais cinemas da cidade, que deveriam seguir a mesma linha de pensamento. A longo prazo, essa iniciativa fará bem para todos: exibidores, espectadores e crítica.

Dito isto, fomos submetidos hoje, à cabine de "The Beaver" ("O Castor" aqui muito bem traduzido para "Um Novo Despertar" - o filme faz jus à tradução tosca), filme dirigido por Jodie Foster, que ainda atua ao lado de Mel Gibson, o protagonista da trama. Tudo em "The Beaver" me parece um tremendo equívoco, desde a escolha do elenco, com um Mel Gibson se esforçando para fazer caretas pra nos mostrar que está em depressão profunda. Ou de uma Jodie Foster completamente fora do eixo, com uma personagem completamente rasa, que bota o marido pra fora como se ele estivesse tendo ataques histéricos, ao invés de ser tratado como doente que é. As relações familiares são tratadas aqui com a profundidade de um pires e Jodie Foster, sem traquejo algum pra desenvolver imageticamente aqueles personagens em ruínas, acaba se rendendo aos mais banais clichês, esfregando um monte de coisas na cara do espectador pra ver se ele saca as sutilezas que o filme propõe. Sutilezas do peso de uma jubarte diga-se de passagem.

Engraçado também como o filme se trai o tempo todo, hora criticando o mercado de auto-ajuda, hora ele próprio sendo um genuíno produto de auto-ajuda. Jodie Foster me parece dona de uma preguiça mental impressionante. Alguns dizem que o problema seria o roteiro, mas francamente, grandes diretores fizeram obras-primas a partir de roteiros medíocres. Claro, o roteiro me pareceu risível do começo ao fim, mas o fracasso maior do filme está na direção canhestra e boçal de uma Jodie Foster completamente limitada e presa às mais fáceis e óbvias fórmulas do cinema norte-americano.

Resta ao final um moralismo dos mais baratos. Depois da perda de um membro, o fim da depressão e a reconciliação familiar, todos vivem felizes para sempre, fazendo loopings na montanha russa que a matriarca da casa projetou. Montanha russa sem loopings, sem adrenalina, sem emoção.

Filme visto no Lumiére Bouganville.


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