sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Ainda sobre o senso crítico...

Na Contracampo há um interessante texto do Luiz Carlos Oliveira Jr. sobre os rumos da crítica brasileira, da sua relação com a publicidade e que reiteram muito da minha visão sobre o novo filme do Fincher e sobre essa falta de senso crítico - não só por parte da crítica em si - da sociedade como um todo!


http://www.contracampo.com.br/92/pgpublicidadevenceu.htm

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Benjamin Button e o senso crítico...

Como é fácil manipular platéias hoje em dia! O novo filme do Fincher é uma enganação do começo ao fim, mas todo mundo compra como "filme-mensagem" - desde já lembrando uma frase de quem desconheço a autoria; "cinema não é fax pra passar mensagem" - edificante, sobre "envelhecer". O que mais me chamou atenção nesse filme é como a publicidade se faz presente da maneira mais radical na carreira de David Fincher. É claro que como publicitário que é, seus filmes sempre carregaram esse fardo marketeiro, mas sempre de uma maneira mais sombria e de certa forma, estimulante. Aqui, todos os cacoetes de um filme publicitário se fazem presentes, e o roteiro não ajuda em nada ao transformar a vida de Benjamin Button em uma odisséia épica, repleta de lirismo barato (aaahh, o beija-flor), com tema relevante pra conquistar platéias que consideram o Oscar o grande termômetro de avaliação do melhor do cinema produzido no ano. Mas pena mesmo é constatar que um cineasta vindo de uma obra tão forte e impressionante como Zodíaco (o menos publicitário e melhor de seus filmes) e que parecia ser uma tremenda evolução na sua carreira, regrida ao ponto de fazer um filme tão preguiçoso e com um final tão cafona como esse Button.

O poder transformador de "A Troca"


O que é A Troca senão um filme conceito? Conceito num sentido bem radical da palavra por que o que faz Clint Eastwood nesse seu novo filme, além de trazer à tona diversos fantasmas da história americana (o que ele vem fazendo abertamente desde Poder Absoluto de 1997) é subverter uma série de códigos do cinema clássico americano num reprocessamento um tanto vanguardista dessa fórmula centenária de se fazer "cinema narrativo".

Comecemos então pelo título do filme: Changeling! Mudança, troca, confusão... Clint que, longe de querer elevar seu cinema à perfeição, prefere se modificar a cada sequência, modificar o mundo (como faz Christine Collins) ou modifcar o cinema, sua narrativa, alterar o formato da tela, as cores da fotografia, a estrutura e os códigos de gênero, as atuações. Tudo em "A Troca" parece respirar e se encher de vida a cada nova sequência. Afinal flashbacks surgem do nada, sem nenhum aviso, a trama começa a se dividir em 2 ou 3 outras e o filme vai se metamorfoseando, se alterando, se reiventando como reflexo das mudanças do mundo provocadas por Christine ou por nós mesmos em nosso dia-a-dia. Daí me pego pensando em Clint Eastwood como um experimentador e não como "o último cineasta americano clássico vivo", e seu cinema se aproxima de nomes distintos como Apichatpong Weerasethakul e Alain Resnais, cujo poder de transformação se estabele no cerne de suas obras, por mais distintas que sejam elas. Seria uma comparação um tanto vaga, mas se pensarmos em palavras como fantasmas, memória, tempo, mudanças, revolução, a identificação passa a se tornar mais evidente.

Mas e o melodrama? Christine Collins la pelas tantas torce para que o filme "Aconteceu Naquela Noite" vença a edição do Oscar daquele ano. Ora, quem é Frank Capra senão o grande mestre do melodrama da era de ouro hollywoodiana? Há muito de Capra ali de fato, mas a comparação mais acertada que tenho visto por ai é a com Fritz Lang, que entrou para o cinema americano após fazer "M" que é nada menos que um filme sobre um assassino de crianças, e se firmou fazendo thrillers e suspenses noir, além de alguns melodramas, aliás donos dessa força transformadora já tão batida aqui nesse texto.

Ainda nesse sentido, a justificativa para a escolha de Angelina Jolie parece bem acertada, senão indispensável. Antes de pensarmos em sua interpretação é importante analisar sua caracterização. Esquálida, frágil, curvada para frente, branquíssima... Angelina assume ali o papel de uma menina incapaz de entender o mundo a sua volta, apesar de carregar consigo uma força incandescente de transformação. Essa dualidade entre força e fragilidade é grande trunfo de sua atuação, que mais superficialmente pode ser vista como histérica em alguns momentos ou absurdamnente fria e contida em outros.

Fica claro ao final a busca de Eastwood pela beleza da imperfeição, num filme tão abertamente dissonante, e por isso mesmo tão humano e profundo. Seja como reflexão da arte, seja como reflexão de mundo.