segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Uma Garota Dividida em Dois


Há alguns anos Claude Chabrol vem trabalhando em família, dividindo os créditos de seus filmes com sua esposa (roteirista), sua filha (cenário, figurino...), seu irmão (música) e rendendo filmes irregulares mas ainda assim cheios de interesse por seus personagens, de uma vontade latente de falar sobre a sociedade francesa, sempre com um quê hitchcockiano que só ele sabe trabalhar (muito longe das referência diretas de um De Palma por exemplo) dosando de maneira surpreendente sátira e suspense nesse que é possivelmente seu melhor filme desde Mulheres Diabólicas.

Uma Garota Dividida em Dois é uma metáfora absolutamente corrosiva sobre moralismo, puritanismo, hipocrisia, que faz belo par com A Última Amante de Catherine Breillat, mas que consegue ir muito além, graças aos diálogos impagáveis e a uma entrega profunda do filme ao caricato, ao extremo e as vezes até ao non-sense, sempre dando aos personagens a liberdade de se assumirem como bem quiserem, seja como reflexos ou representações das mais diversas camadas sociais, dilemas e comportamentos, mas sobretudo dessa complexa divisão entre verdade e mentira. Da mentira que há na verdade ou da verdade que há na mentira.

O filme abre com Charles, escritor, artista, libertário, já beirando os 50, que vive dividido entre a esposa "Santa", e suas aventuras sexuais com os amigos em um clube de swing. Corte seco para Gabrielle, jovem e bela garota da meteorologia e que desperta o interesse de grande parte dos homens, mas se interessa única e compulsivamente por Charles, por quem guarda enorme admiração e devoção, enxergando-o como um misto de pai (que nunca teve, sua mãe foi abandonada quando ainda era criança) e amante. Há por último Paul Gaudens, jovem e rico, que se apaixona por Gabrielle à primeira vista e fará de tudo para tê-la consigo.

O jogo de Chabrol, como não poderia deixar de ser é o da divisão. Não só a divisão de interesses dos personagens ou da narrativa em si, mas um jogo fortemente imagético de corte, de uma cisão quase cirúrgica. Em vários momentos vemos Gabrielle de alguma forma partida ao meio, seja através de reflexos no espelho, seja de algum truque de câmera, ao mesmo tempo que grande parte dos personagens se vêem diante de diversos dilemas também dividos por essa serra cortante que é o destino. Fato é que Gabrielle apaixonada por Charles irá superar algumas convenções e embarcar num jogo sexual com o escritor que ao bel prazer, fará dela uma espécie de brinquedo sexual, fuga para a santice de seu casamento ou para a reafirmação dele como macho, ainda que de meia idade. Charles porém nunca pensou em abandonar a esposa e acaba deixando Gabrielle sem chão. É ai que entra Paul (Benoît Magimel irrepreensível). Representação quase cartunesca de uma certa aristocracia européia, usa roupas extravagantes, um cabelinho chanel engraçadíssimo e com um comportamento na maioria das vezes explosivo, mas sempre com um humor meio agressivo, Paul se apaixona por Gabrielle e usará de todas as suas armas para conquistá-la, seja o dinheiro, seja a violência.

À medida que o filme prossegue, a teia de relações entre os personagens vai se complexificando. O passado dos personagens vai sendo revelado e Chabrol vai conduzindo seu filme para o cheque-mate decisivo. Em um dado momento, após revelar de maneira bem crítica e maldosa alguns aspectos da vida de Paul Gaudens, Charles é interrompido pela esposa que diz ser incapaz de julgar qualquer pessoa que seja. Essa incapacidade de julgar Claire (esposa de Charles) é a diese do filme, o fio condutor desse questionamento sobre o limite entre verdade e mentira e suas consequências, sobre esse moralismo burguês e um fantasioso jogo de aparências. Assim, a garota acaba sendo dividida em dois: da cintura pra baixo, o sexo sem limites, a incapacidade de se comunicar ou mesmo de raciocinalizar, o animalesco. Da cintura pra cima a consciência, as emoções afloradas, as dúvidas, os medos, o enfrentamento... O final do filme é impecável, com Gabrielle externalizando seus sentimentos, numa única lágrima que escorre de seu rosto enquanto ela é cortada ao meio. Metáfora poderosa, num filme que nos faz pensar num Chabrol em plena forma aos 78 anos de idade, um artista em grande momento criativo, num filme sobretudo perturbador, mas também libertador.

domingo, 12 de outubro de 2008

Mostra SP 2008 - Line-up


Saiu lista parcial de filmes confirmados pra Mostra desse ano. É claro que há ainda vários títulos a se confirmar - organização do evento prometeu 560 filmes e até agora só foram confirmados 400 - mas algumas ausências foram pesarosamente sentidas levando-se em conta o Festival do Rio, como os novos filmes do mestre Eric Rohmer, Shinji Aoyma, Hong Sang-soo, Derek Jarman, Skolimovski, Mike Leigh, Kitano, além de outros ainda inéditos no Brasil como 35 Rhums da Claire Denis, Shirin do Kiarostami além dos novos de Johnny To e da Ágnes Varda.
Fora isso a Mostra tem nomes fortes na sua seleção como os novos de Olivier Assayas, Jia Zhang-Ke, Brillante Mendoza, Soderbergh, Guy Maddin e Raymond Depardon, além de Phillipe Garrel, os irmãos Dardenne, Desplechin, Miguel Gomes, Bressane, Kawase, Wong Kar Wai e Kyioshi Kurosawa.
Importante também ressaltar as retrospectivas de Ingmar Bergman, Kihachi Okamoto (cineasta que não conheço, mas já ouvi coisas muito boas) e Hugh Hudson, a projeção da série Berlin Alexanderplatz do Fassbinder, além de seleção de filmes feita por Win Wenders que conta com filmes do Ozu, Godard dentre outros!

Aqui lista da Mostra Perspectiva:
(destaques em negrito)

- 10+4 (DAH BE ALAVEH CHAHAR…), de Mania Akbari
- 24 CITY (ER SHI SI CHENG JI), de Jia Zhang-ke
- 3 ESTAÇÕES (3 SAISONS), de Jim Donovan
- 32 A, de Marian Quinn
- 45 RPM, de David Schultz
- A CANÇÃO DOS PARDAIS (AVAZE GONJESHK-HÁ), de Majid Majidi
- A DANÇA DO ENCANTAMENTO, de Adoor Gopalakrishnan, Brigitte Chataignier
- A DUQUESA (THE DUCHESS), de Saul Dibb
- A ERVA DO RATO, de Julio Bressane
- A FESTA DA MENINA MORTA, de Matheus Nachtergaele
- A FLORESTA DOS LAMENTOS (MOGARI NO MORI), de Naomi Kawase
- A FRONTEIRA DA ALVORADA (LA FRONTIÈRE DE L’AUBE), de Philippe Garrel
- A GUITARRA (THE GUITAR), de Amy Redford
- A MUSA (DE MUZE), de Ben Van Lieshout
- A PRINCESA DE NEBRASKA (THE PRINCESS OF NEBRASKA), de Wayne Wang
- A RAINHA CÉLIA (CELIA THE QUEEN), de Joe Cardona, Mario de Varona
- A ROTA DO GUERREIRO (DER PFAD DES KRIEGERS), de Andreas Pichler
- A VIDA MODERNA (LA VIE MODERNE), de Raymond Depardon
- ABAIXANDO A MÁQUINA, de Guillermo Planel, Renato de Paula
- ABSURDISTAN, de Veit Helmer- ACNE, de Federico Veiroj
- ADEUS ÀS MÃES (ADIEU MERES), de Mohamed Ismail
- ADORAÇÃO (ADORATION), de Atom Egoyan
- AFRICA UNITE, de Stephanie Black- AIR, de Ryotaro Muramatsu
- ALEXANDRA, de Alexander Sokurov
- AMIGOS DE RISCO, de Daniel Bandeira
- APENAS O FIM, de Matheus Souza
- APPALOOSA – UMA CIDADE SEM LEI (APPALOOSA), de Ed Harris
- AQUELE QUERIDO MÊS DE AGOSTO, de Miguel Gomes
- AS OFICINAS DE DEUS (LES BUREAUX DE DIEU), de Claire Simon
- AVIADORES, de Herbert Brödl
- BERLIN CALLING, de Hannes Stöhr
- BOLO DE BOTA (THE BOOT CAKE), de Kathryn Millard
- CAFÉ DOS MAESTROS (CAFE DE LOS MAESTROS), de Miguel Kohan
- CAIXA DE PANDORA (PANDORANIN KUTUSU), de Yesim Ustaogu
- CANÇÃO CUBANA (COMME À CUBA), de Fernand Bélanger, Louise Dugal, Yves Angrignon
- CANÇÃO DE BAAL, de Helena Ignez
- CAPITÃO ABU RAED (CAPTAIN ABU RAED), de Amin Matalqa
- CAVALO DE DUAS PATAS (ASBE DU-PA), de Samira Makhmalbaf
- CHE, de Steven Soderbergh
- CHEVOLUTION, de Trisha Ziff, Luis Lopez
- CHOKE, de Clark Gregg
- CIDADE MARAVILHOSA (WONDERFUL TOWN), de Aditya Assarat
- CILADA AMERICANA (THE AMERICAN TRAP), de Charles Biname
- CINZAS DO PASSADO REDUX (DONGXIE XIDU), de Wong Kar Wai
- COMO DIZ A BÍBLIA (FOR THE BIBLE TELLS ME SO), de Daniel Karslake
- CONFISSÕES DE SUPER-HERÓIS (CONFESSIONS OF A SUPERHERO), de Matt Ogens
- CONTRATEMPO, de Malu Mader, Mini Kerti
- COQUELICOTS, de Philippe Blasband
- CORRA POR SUA VIDA! – DE JUNKIE A IRONMAN (RUN FOR YOUR LIFE! - FROM JUNKIE TO IRONMAN), de Adnan Köse
- COVER BOY, de Carmine Amoroso
- CSNY / DÉJÀ VU, de Neil Young- DEIXA ELA ENTRAR, de Tomas Alfredson
- DESIERTO ADENTRO, de Rodrigo Plá
- DESIERTO SUR, de Shawn Garry
- DEUS HOMEM CACHORRO (LIO LANG SHENG GO REN/), de Singing Chen
- DIAS E NOITES, de Beto Souza
- DOCE DE COCO, de Penna Filho
- DUSKA, de Jos Stelling
- É DURO SER AMADO POR CRETINOS (C´EST DUR D´ETRE AIME PAR DES CONS), de Daniel Leconte
- EL CAMINO, de Ishtar Yasin
- EL CIELO, LA TIERRA Y LA LLUVIA, de José Luis Torres Leiva
- EL GRECO, de Iannis Smaragdis
- EL PAÍS DEL DIABLO, de Andrés Di Tella
- ENCARNACIÓN, de Anahí Berneri
- ENCONTRO ÀS CEGAS (BLIND DATE), de Stanley Tucci
- ENEMIGOS INTIMOS, de Fernando Sariñana
- ESTOU VIVA (SONO VIVA), de Dino Gentili, Filippo Gentili
- EU QUERO VER (JE VEUX VOIR), de Khalil Joreige, Joana Hadjithomas
- EU SOU PORQUE NÓS SOMOS (I AM BECAUSE WE ARE), de Nathan Rissman
- FAVELA BOLADA, de Leandro HBL
- FELIZ NATAL, de Selton Mello
- FUERA DE CARTA, de Nacho Velilla
- GARAPA, de José Padilha
- GASOLINA, de Julio Hernández Cordón
- GOMORRA (GOMORRAH), de Matteo Garrone
- HANAMI – CEREJEIRAS EM FLOR (KIRSCHBLÜTEN – HANAMI), de Doris Dörrie
- HOMEM DE VENTO (WIND MAN), de Khuat Akhmetov
- HORAS DE VERÃO (L' HEURE D\'ÉTÉ), de Olivier Assayas
- HUNABKÚ, de Pablo César
- ICE, de Makoto Kobayashi
- IL DIVO, de Paolo Sorrentino
- JESÚS FRANCO MANERA DE VIVIR, de Kike Mesa
- JODHAA AKBAR, de Ashutosh Gowariker
- JULGAMENTO, de Leonel Vieira
- JUVENTUDE, de Domingos Oliveira
- KATYN, de Andrzej Wajda
- KHAMSA, de Karim Dridi
- KINOGAMMA PART 1: EAST, de Siegfried
- KINOGAMMA PART 2: FAR EAST, de Siegfried
- LA BOHEME, de Robert Dornhelm
- LA BUENA VIDA, de Andrés Wood
- LA RABIA, de Albertina Carri
- LEITE (SÜT), de Semih Kaplanoglu
- LIÇÕES PARTICULARES (ELÈVE LIBRE), de Joachim Lafosse
- LIVERPOOL, de Lisandro Alonso
- LOKAS, de Gonzalo Justiniano
- LOKI - ARNALDO BAPTISTA, de Paulo Henrique Fontenelle
- LOS DEMONIOS DEL EDEN, de Alejandra Islas
- LOVE LIFE, de Maria Schrader
- LUBER ALOFT (LÜBER IN DER LUFT), de Anna-Lydia Florin
- LUCIO, de Aitor Arregi, Jose Maria Goenaga
- MADE IN ITALY, de Stephane Giusti
- MADE IN L.A., de Almudena Carracedo
- MAIS TARDE VOCÊ ENTENDERÁ (PLUS TARD TU COMPRENDRAS), de Amos Gitai
- MAKSUARA - CREPÚSCULO DOS DEUSES, de Neville D\'Almeida, Tamur Aimara
- MÁNCORA, de Ricardo de Montreuil
- MANDA O DIABO PARA O INFERNO (PRAY THE DEVIL BACK TO HELL), de Gini Reticker
- MATARAM A IRMÃ DOROTHY (THEY KILLED SISTER DOROTHY), de Daniel Junge
- MAUI BOYZ (MAUI BOYZ HAWAIIAN SUP\'PA MEN), de Carsten Maaz
- MAX PAYNE, de John Moore
- MELANCHOLIA, de Lav Diaz
- MELODIAS DA PRIMAVERA (MÄRZMELODIE), de Martin Walz
- MEU WINNIPEG (MY WINNIPEG), de Guy Maddin
- MIL ANOS DE ORAÇÕES (A THOUSAND YEARS OF GOOD PRAYERS), de Wayne Wang
- NASCIDOS EM 68 (NES EN 68), de Olivier Ducastel, Jacques Martineau
- NATAL BAGUNÇADO (MEINE SCHÖNE BESCHERUNG), de Vanessa Jopp
- NATUREZA ANTERIOR (DIE NATUR VOR UNS), de Niels Bolbrinker
- NINGUÉM É PERFEITO (NOBODY´S PERFECT), de Niko von Glasow
- NINHO VAZIO (EL NIDO VACÍO), de Daniel Burman
- NUCINGEN HAUS, de Raoul Ruiz
- NUVEM 9 (WOLKE 9), de Andreas Dresen
- O AGENTE (THE AGENT), de Lesley Manning
- O CANTO DOS PÁSSAROS (EL CANT DELS OCELLS), de Albert Serra
- O CASAMENTO DE RACHEL (RACHEL GETTING MARRIED), de Jonathan Demme
- O DIA DEPOIS DA PAZ (THE DAY AFTER PEACE), de Jeremy Gilley
- O FIM DA POBREZA? (THE END OF POVERTY?), de Philippe Diaz
- O MENINO DO PIJAMA LISTRADO (THE BOY IN THE STRIPED PYJAMAS), de Mark Herman
- O OCULTO (THE HIDE), de Marek Losey
- O OUTRO LADO DE ISTAMBUL (DAS ANDERE ISTANBUL), de Döndü Kilic
- O PEQUENO CHEFÃO GREGO (PROTI FORA NONOS), de Olga Malea
- O PRIMEIRO A CHEGAR (LE PREMIER VENU), de Jacques Doillon
- O ROQUEIRO (THE ROCKER), de Peter Cattaneo
- O SILÊNCIO DE LORNA (LE SILENCE DE LORNA), de Jean-Pierre, Luc Dardenne
- O ÚLTIMO REDUTO (DERNIER MAQUIS), de Rabah Ameur-Zaïmeche
- O’ HORTEN, de Bent Hamer
- O PODEROSO CHEFÃO (THE GODFATHER), de Francis Ford Coppola
- OS AVENTUREIROS (THE TUMBLER), de Marc Gracie
- OSO BLANCO, de Christian Suau, Ramiro Millan
- OURO NEGRO, de Isa Albuquerque
- PACHAMAMA, de Eryk Rocha
- PALAVRA ENCANTADA, de Helena Solberg
- PATTY SMITH – SONHO DE VIDA (PATTI SMITH: DREAM OF LIFE), de Steven Sebring
- PEACE MISSION, de Dorothee Wenner
- POR SUS PROPIOS OJOS, de Liliana Paolinelli
- PRÍNCIPE DA BROADWAY (PRINCE OF BROADWAY), de Sean Baker
- PRISÃO PERPÉTUA (FINE PENA MAI), de Davide Barletti, Lorenzo Conte
- PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO (S.O.P. - STANDARD OPERATING PROCEDURE), de Errol Morris
- PUISQUE NOUS SOMMES NÉS, de Jean-Pierre Duret, Andrea Santana
- PURGATÓRIO, de Roberto Rochín Naya
- QUANDO VOCÊ VIU SEU PAI PELA ÚLTIMA VEZ?, de Anand Tucker
- QUE FAZEMOS AQUI? (WHAT ARE WE DOING HERE?), de Brandon, Nic, Daniel, Tim Klein
- QUEIME DEPOIS DE LER (BURN AFTER READING), de Joel Coen, Ethan Coen
- RADIO CORAZON (RADIO CORAZÓN), de Roberto Artiagoitia
- RAÍZES DE VERÃO (ZIREI KAYITZ), de Hen Lasker
- REBOBINE, POR FAVOR (BE KIND REWIND), de Michel Gondry
- RED, de Trygve Allister Diesen, Lucky McKee
- REVANCHE, de Götz Spielmann - RINHA, de Marcelo Galvão
- RIO CONGELADO (FROZEN RIVER), de Courtney Hunt
- RISCO (RYSA), de Michal Rosa
- ROCKNROLLA - A GRANDE ROUBADA (ROCKNROLLA), de Guy Ritchie
- ROMANCE, de Guel Arraes
- ROUBE UM LÁPIS PARA MIM (STEAL A PENCIL FOR ME), de Michèle Ohayon
- RUAS DA AMARGURA, de Rui Simões
- RUMO A MECA – A JORNADA DE MUHAMMAD ASAD, de Georg Misch
- SE NADA MAIS DER CERTO, de José Eduardo Belmonte
- SEGURANDO AS PONTAS (PINEAPPLE EXPRESS), de David Gordon Green
- SEM QUERER (DE OFRIVILLIGA), de Ruben Östlund
- SENTIDOS À FLOR DA PELE, de Evaldo Mocarzel
- SERBIS, de Brillante Mendoza
- SETE DIAS DOMINGO, de Niels Laupert
- SHAME, de Mohammed Ali Naqvi
- SIDNEY POITIER: UM ESTRANHO EM HOLLYWOOD, de Catherine Arnaud
- SIMPLES MORTAIS, de Mauro Giuntini
- SINÉDOQUE, NOVA IORQUE (SYNECDOCHE, NEW YORK), de Charlie Kaufman
- SÓ DEZ POR CENTO É MENTIRA, de Pedro Cezar
- SOB A MESMA LUA (LA MISMA LUNA), de Patricia Riggen
- SOB AS BOMBAS (SOUS LES BOMBS), de Philippe Aractingi
- SOB CONTROLE (SURVEILLANCE), de Jennifer Lynch
- SOI COWBOY, de Thomas Clay
- SONATA DE TÓQUIO (TOKYO SONATA), de Kiyoshi Kurosawa
- SOUL CARRIAGE (SOUL CARRIAGE), de Conrad Clark
- STEAK, de Quentin Dupieux
- TEMPOS E VENTOS (SOUL CARRIAGE), de Reha Erdem
- TERRA FIRME SOB OS NOSSOS PÉS, de Philip Vogt
- TERRA VERMELHA (BIRDWATCHERS), de Marco Bechis
- TEZA (TEZA), de Haile Gerima
- THE LOVEBIRDS, de Bruno de Almeida
- THE PHOTOGRAPH, de Nan Triveni Achnas
- THREE MONKEYS (ÜÇ MAYMUN), de Nuri Bilge Ceylan
- TIRO CONTRA – REBELIÃO DOS CINEASTAS, de Dominik Wessely, Laurens Straub
- TITÃS – A VIDA ATÉ PARECE UMA FESTA, de Branco Mello, Oscar Rodrigues Alves
- TODO MUNDO TEM PROBLEMAS SEXUAIS, de Domingos Oliveira
- TONY MANERO, de Pablo Larraín
- ÚLTIMA PARADA 174, de Bruno Barreto
- UM CONTO DE NATAL (UN CONTE DE NOEL), de Arnaud Desplechin
- UM HOMEM BOM (GOOD), de Vicente Amorim
- UM LUGAR CHAMADO BRICK LANE (BRICK LANE), de Sarah Gavron
- UM OUTRO PLANETA (ANOTHER PLANET - MÁSIK BOLYGÓ), de Ferenc Moldoványi
- VENGO DE UN AVION QUE CAYO EN LAS MONTAÑAS, de Gonzalo Arijón
- VERÔNICA, de Maurício Farias
- VICKY CRISTINA BARCELONA, de Woody Allen
- VIDA, de Paula Gaitan
- VIDA E MORTE DE HANNAH SENESH, de Roberta Grossman
- VINGANÇA, de Paulo Pons
- VISTA PARA O MAR (SEAVIEW), de Nicky Gogan, Paul Rowley
- WALTZ WITH BASHIR, de Ari Folman
- YOUSSOU NDOUR: I BRING WHAT I LOVE, de Elizabeth Chai Vasarhelyi
- ZEBRA CROSSINGS, de Sam Holland

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A Esquiva: cinema e política


"A imagem é uma criação pura do espírito, ela não pode nascer duma comparação, mas da aproximação de duas realidades distantes. Quanto mais longínquas e justas forem as relações que se estabelecem entre essas duas realidades, mais a imagem será forte. Duas realidades que não tenham nenhuma relação não podem ser aproximadas de modo útil […]. Uma imagem não é forte porque é brutal e fantástica, mas porque a associação das ideias é longínqua e justa." Pierre Reverdy, JLG/JLG


Que filme impressionante esse A Esquiva. Pra quem vai ter um primeiro contato com o cinema do franco-tunisiano Abdelattiff Kechiche vai ficar de queixo caído com tamanho realismo que ele consegue imprimir nesse filme, ainda mais em se tratando de um romance adolescente. Impressiona o poder da misé-en-scéne de Kechiche, o frescor e o naturalismo das interpretações, a decupagem, mas sobretudo a maneira formidável com que ele transforma tudo isso em um dos mais ricos painéis políticos da França e da Europa que vejo no cinema em muito tempo. Ainda que tenha sido reproduzido numa cópia em DVD bem capenga, com a fotografia escurecida e a imagem um tanto deformada, ver A Esquiva é uma raríssima oportunidade de vivenciar uma experiência de fruição impecável de imagens, de engajamento, postura ética e fé em seu registro. É justamente dessa aproximação de realidades sugerida por Reverdy na citação acima e muito defendida também por Godard em seus filmes ensaio com o Grupo Vertov, que o filme se sustenta de maneira genial e acima de tudo muito justa e ética, limpa e clara (em um ou dois momentos de maneira até didática) pensando o mundo como reflexo das nossas relações pessoais, aproximando a arte da realidade, das pessoas, do complexo emaranhado político entre países europeus e africanos, num filme que respira o tempo todo o frescor da adolescência, das paixões, das dúvidas, da (in)comunicabilidade... nos fornecendo belos registros/documentos/metáforas do cotidiano.

Preâmbulo.

Relutei durante algum tempo na criação desse blog. Sempre fui meio preguiçoso pra essas coisas, mas agora, com a aproximação da Mostra SP de Cinema e minha já confirmada ida pra lá, me senti meio que compelido a botar quente aqui, até pra servir como válvula de escape pra uma maratona de cerca de 30 filmes durante 10 dias. Enquanto a Mostra não chega, já vou amaciando os dedos postando alguns comentários sobre a Mostra de Cinema Francês promovida pela Aliança Francesa lá no Cine Ouro!

O evento traz filmes inéditos por aqui, de cineastas em sua maioria com decendência africana e que retratam basicamente o cotidiano desses imigrantes na França. Dentro dessa abordagem, se destacam Abdelattif Kechiche, prêmio especial do júri e melhor atriz no Festival de Veneza do ano passado com o excelente O Segredo do Grão, e Rabah Ameur-Zaimèche cineasta que vem despertando grande interesse da crítica.

Do Kechiche será apresentado seu filme anterior, A Esquiva, vencedor de 5 César incluindo melhor filme e diretor em 2004 e que eu ainda não vi. Do Zaiméche serão os 2 primeiros filmes de uma trilogia sobre trabalhadores africanos na França, que começa com Wesh Wesh, o que foi?, seguido por Povoado Number One. Trilogia se encerra com O Último Reduto, seu último filme, recém-lançado e integrante do Festival do Rio deste ano e possivelmente da Mostra SP também.

Mostra do Cinefrance começa hoje com A Esquiva.

Aproveito pra tentar dar uma olhada na estréia da semana aqui do novo filme do Claude Chabrol, Uma Garota Divida em Dois. Chabrol é mestre e apesar de seu último filme, A Comédia do Poder ser bem meia-boca, sua filmografia é sempre de muito interesse, afinal o cara fez coisas geniais como Nas Garras do Vício, O Açougueiro, Mulheres Diabólicas... ou seja, não é pouca coisa não!

Então fica dada a largada a esse pequeno blog que vai bombar de atualizações nos próximos dias.

Veremos!