quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Melhores de 2011

2011 pode ser encarado como o ano do cinema brasileiro. Poucas vezes tanta variedade de gêneros e títulos se fez disponível para o grande público no que me parece um princípio da democratização da distribuição cinematográfica no país. Culpa da Vitrine Filmes, com um dos projetos mais ousados e corajosos que o cinema brasileiro viu em muito tempo. Culpa também dessa geração de novos cineastas, que a despeito da irregularidade de muitos filmes, têm buscado sempre uma nova identidade, um novo olhar para o Brasil, nosso povo, nossa cultura, nosso cinema. Foi ano também de mestres já consagrados, nos maravilhando, com boa parte da lista ocupada por nomes de peso, ainda que tenham ficado de fora  figurinhas carimbadas da cinefilia e que, ou desapontaram muito (Mallick), ou  continuaram num mesmo patamar de desinteresse e mediocridade de seus últimos filmes (Lars Von Trier). Seleção, como sempre, tem por base o calendário nacional de estréias (Filme B) e portanto ainda continuam inéditos em Goiânia boa parte dos selecionados (alguns deles serão exibidos na Mostra "O Amor, a Morte e as Paixões" que começa dia 26 de janeiro). Nenhum problema em tempos de compartilhamento de arquivos, em que boa parte deles já estão sendo semeados mundo afora. Por fim, não poderia deixar de escolher os melhores filmes goianos de 2011, uma vez que a grande quantidade de filmes exibidos ao longo do ano permitiu a descoberta de algumas belas obras, de cineastas que merecem ser acompanhados de perto. E vamos por que 2012 já começa com tudo.

1) Pacific

Marcelo Pedroso faz um dos mais importantes e fortes registros da classe média brasileira que eu vejo em muito tempo. E é o registro produzido por essa própria classe-média que irá nos conduzir a um mergulho quase que godardiano ao universo de faz-de-conta que toma conta dessa fatia da sociedade brasileira, captado pelas imagens das mais variadas mídias que vão se fundindo pra se construir um filme épico, uma espécie de Titanic moderno, onde a tragédia não está no choque com um iceberg, mas no choque entre ilusão e realidade. Um confronto que revela uma consciência naufragada de uma sociedade que se vê deslumbrada pela possibilidade crescente de um consumismo desenfreado, fechando os olhos para os problemas que empurram a sociedade para um abismo sem fim.

2) Isto Não é um Filme

Existem tantas coisas em jogo nesse filme de cativeiro de Jafar Panahi. Poderia ser apenas um filme político, mas não é. Poderia ser uma experiência de linguagem onde o processo de criação de Panahi, acaba se diluindo no próprio processo fílmico que é “Isto Não é Um Filme”, confrontando o brainstorm da criação artística sendo rabiscado na tela com a impossibilidade de Panahi de conceber livremente a sua arte. Se existe a censura, existe antes a capacidade do artista em driblá-la. Desde já um dos filmes mais importantes dessa década.

3) Cópia Fiel


Kiarostami, agora longe da realidade conturbada de sua terra natal, filma duplos, triplos, quádruplos. Filma uma versão de todos os romances do mundo, uma cópia incopiável, mas que é ela mesma, um reflexo, uma imitação da própria vida. Juliette Binoche impecável, em mais uma experiência fascinante do grande Abbas Kiarostami.

4) As Praias de Agnes

Agnes Varda volta ao seu universo pessoal, algum tempo depois de Os Catadores e Eu. Nesse sentido As Praias de Agnes é um filme de intimidade, onde a vida, os pensamentos, as memórias, a alma da diretora são construídas através das impressões que a própria diretora tem daquelas paisagens, e dos objetos e pessoas que compõem aquele espaço. Nessa ânsia de coletar impressões e sentimentos sobre sua própria vida, Varda faz um de seus filmes mais fortes e emocionantes.

5) Singularidades de Uma Rapariga Loura

Manoel de Oliveira no auge de sua forma aos 104 anos continua nos deixando perplexos com mais essa pequeníssima, mas grandiosa obra-prima toda orquestrada por olhares furtivos, janelas que se abrem para o mundo e para o amor, nessa adaptação sensacional do conto de Eça de Queiroz.


6) Tio Boonmee, Que Pode Lembrar de Suas Vidas Passadas

Ainda que em revisões Tio Boonmee não consiga se firmar como o melhor filme do cineasta tailandês Apichatpong Weerasethakul, o simples fato de ser o primeiro filme do diretor distribuído no Brasil já é motivo mais que suficiente para celebração. Afinal, Apichatpong é um dos grandes do cinema atual, e mesmo um filme seu não-tão-bom-quanto-os-outros, já é bem melhor que a grande maioria do que se vê em cinema em qualquer ano.

7) Além da Vida/Inquietos


Eastwood e Van Sant resolvem falar de morte para filmar as pequenas belezas da vida. Se em Eastwood o além da vida é a própria sobrevivência, é a chance de se recomeçar, de se reencontrar, para Van Sant, a morte é a eternização da vida, da memória. Belíssimos filmes de 2 dos maiores cineastas americanos em atividade.

8) Pânico 4

Wes Craven já havia nos brindado com um delicioso conto de horror sobre múltiplas personalidades e representações com o ótimo “A Sétima Alma”. Mas é com a retomada da série Pânico, que traz à tona toda a carga política e alegórica que Craven sempre imprimiu em sua filmografia. Dessa vez numa radiografia absolutamente mordaz sobre a sociedade contemporânea, das celebridades instantâneas, do sensacionalismo, do sucesso a qualquer preço.

9) A Pele que Habito

O mais almodovariano dos filmes de Almodóvar não poderia ficar de fora de uma lista de melhores. É quase como rever toda a sua filmografia em um filme só. E mais desvairado e deliciosamente nonsense do que nunca.

10) A Caverna dos Sonhos Esquecidos

Em nenhum outro filme a experiência do 3D se faz tão orgânica e visceral como nesse novo documentário de Herzog. É o embrião do cinema em gestação, filmado dentro do ventre da terra.

Menções honrosas:
As Canções, de Eduardo Coutinho
Margin Call, de J.C. Chandor
Os Residentes, de Thiago Mata Machado
Super 8, de J. J. Abrams
Meia Noite em Paris, de Woody Allen
Homens e Deuses, de Xavier Beauvois
Um Lugar Qualquer, de Sofia Coppolla
Desassossego, filme coletivo
Vênus Negra, de Abdellatif Kechiche
Ricky, de François Ozon
Aterrorizada, de John Carpenter
A Sétima Alma, de Wes Craven


Melhores filmes goianos: 
- Mañana Cest Carnaval, de Alyne Fratari



- O Desespero Fotográfico de Meu Pai, de Carlos Cipriano



- Eu Não Caibo Mais Aqui, de Banedito Ferreira

- Julie, Agosto e Setembro, de Jarleo Brabosa



- Mero, de Camila Leite


Menção honrosa pro longa Cartas do Kuluene, de Pedro Novaes.

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